A solidão dessa sala me faz pensar sobre todas as incontáveis vezes que você me disse adeus, e eu não fui capaz de perceber. Todos os mínimos detalhes, os olhares, tudo. Você sempre me disse que não suportava essa minha mania de remexer nas suas gavetas apenas para procurar uma caneta. Você sempre me disse que detestava o fato de eu não conseguir dormir sem sentir seu cheiro no meu pijama. Sempre odiou minha rebeldia adolescente ao acordar, minha mania de ficar acordada até o sol raiar. Você, meu amor, sempre detestou apelidos estupidamente carinhosos e por isso eu sempre os usava quando queria caçoar com você. Mas, apesar de tudo, eu pensei que você me entendesse. Juro que por um momento ou outro me passou pela cabeça que você era capaz de ver por trás do que eu realmente sou. Ver a essência, as feridas. Pensei, também, que você pudesse me curar. E por mais que eu quisesse que tudo o que eu sonhara virasse realidade, hoje eu junto nossas tralhas e as ponho no lixo. Por Deus, garoto, onde está você? Não o físico. Esse eu sei que se encontra dentro de qualquer vagabunda que não tenha nada a ver comigo. Esse eu sei que está fazendo cafuné naquela piranha que você julga ser melhor do que eu. Eu estou falando da alma. Cadê ela? Cadê a personalidade pela qual eu me apaixonei? Não se sinta surpreso se eu ficar com ciúmes ao vê-la te chamando de bebê, e você sorrindo. Não se surpreenda se eu quiser que o mundo inteiro caia sobre aquela cabeça de farmácia dela. Eu não tenho escolhas, guri. Você me deixou em um labirinto sem saída. Amei você, realmente amei. E você conhece minha teoria – amor não acaba. Sabe o que isso significa? Que eu odiava as suas meias dentro dos tênis, aquela sua blusa xadrez velha e suja, a pasta de dente que você insistia em comprar, o seu cabelo curto demais, a sua mãe e sua mania de sempre deixar tudo perfeito. E destruir o que já está. Quer dizer que eu detestava o seu jeito impoliticamente correto de ser, todas as vezes que você reclamava das minhas unhas rosas e não vermelhas, o fato de você não saber a diferença entre rímel e sombra. Quer dizer que você sempre foi um idiota e que nem sempre eu quis gostar de você. E que você nunca quis gostar de mim. E que a gente tentou se enganar esse tempo todo fingindo que poderíamos ser algo mais do que apenas amigos, quando nem mesmo a amizade funcionava para nós. É isso que significa – eu sempre soube de tudo isso, mas não me importava. Por que estar com você sempre fez com que tudo parecesse mais simples. Então, todas as vezes que você me disse adeus, todas as promessas quebradas… Eu relevei. Relevei, por que não pensei que você fosse capaz de me deixar assim, sozinha. Por que não pensei que você estivesse falando sério quando disse que meu gosto musical te tirava do sério. Eu não pensei que você fosse ser estúpido o suficiente para me trocar pela falta de cérebro ambulante. Vai lá, continua com essa garotinha que aceita tudo o que você fala com um sorriso nos lábios. Continua com essa imbecilidade sobrehumana que só sabe fazer a tua vontade. Por que eu te entendo e te sei. Por isso, eu tenho certeza que meu telefone ainda vai tocar e sua voz rouca vai me dizer que sente falta de ter alguém gritando nos seus ouvidos o quanto você é errado e não sabe fazer nada. Eu sei que a saudade vai bater, e você vai vir correndo para mim. Por que, no final das contas, sou eu quem você conhece por inteira e ama mesmo assim. E sou eu quem escuta suas loucuras e continua segurando sua mão na hora de atravessar a rua.
Mostrando postagens com marcador Ana F.. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ana F.. Mostrar todas as postagens
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
Ana F.
Ana F.
Acho que, depois de tanto tempo dizendo essas palavras frias e sem gosto que o amor representa, eu finalmente aprendi o verdadeiro significado de amar. Não é aquele frio na barriga, o vermelho das bochechas, o disparo do coração. Amar não tem nada a ver com as reviravoltas na cabeça, a felicidade. Não tem nada a ver com as ligações de madrugada, os beijos, as carícias. Amar não é algo bom, não é bonito. Amar é sangrar. Você morre por dentro e se rejuvenesce por fora, você sangra tanto até que não haja mais sangue e tudo que você julgava importante vira pó. Amar é doer. É não aguentar mais a dor e continuar de pé, é querer se deitar e deixar o queixo erguido, é pedir para morrer e acabar se salvando. Amar não é algo bom, guri. A gente achou que fosse – eu mesma pensei que estivesse fazendo a coisa certa dessa vez. Mas não. Amar é o caminho para a autodestruição. A gente brinca com fogo e pensa que não tem perigo, a gente tranca a respiração embaixo d’água pensando que não faz mal. Faz. A gente ta trilhando o caminho para o fim em meio a uma velha cantiga de amor. Isso não faz bem, não é saudável e muito menos normal. Isso é trágico. Nossa história não é um romance – é uma tragédia.
Assinar:
Postagens (Atom)